domingo, 5 de julho de 2009

ENTREVISTA - MESTRE DE FATO E DE DIREITO

 

MF Álvaro Aranha


Mestre de fato e de direito
Entrevista com Álvaro Aranha Filho - Por Moisés Arruda

"Eu sou um professor que joga."

A conquista de co-campeão do IRT de Rosário do Oeste (MT) deu ao paulista Álvaro Zimmerman Aranha Filho 13 pontos a mais no seu rating FIDE, que lhe garantiram, aos 27 anos, o tão sonhado título de Mestre FIDE, corrigindo uma injustiça com um dos mais fortes jogadores do país sem titulação até então. Prova disso foi sua fantástica performance no II Memorial Amadeu Franco, onde chegou à frente de todos os seis mestres participantes.

"Alvinho", como é conhecido entre os amigos, teve um início digno de menino prodígio. Além de diversos títulos nas categorias menores, foi campeão paulista juvenil por duas vezes (1998 e 1999) e vice-campeão mundial por equipes (1999).

Considerado polêmico, o ex-aluno do MI Hélder Câmara, apesar da juventude, tem uma ampla visão do cenário do xadrez brasileiro e muitas histórias para contar.


1) Conte-nos como o xadrez entrou na sua vida. Com quem e como aprendeu o jogo?
O xadrez entrou na minha vida por acaso, aos 11 anos achei um tabuleiro bonito e pedi pra minha mãe comprar, nem sabia que jogo era aquele. Quem me ensinou a mover as peças foi o meu pai.

2) Sendo filho de um professor de matemática, acredita na idéia bem difundida de que a prática do xadrez facilita o desenvolvimento da criança nas ciências exatas?
Com certeza. Existem estudos internacionais que provam que a prática do xadrez ajuda a criança a ter um melhor aproveitamento nas matérias de exatas.

3) Você interrompeu um curso de Jornalismo em uma conceituada faculdade de São Paulo e tem se dedicado exclusivamente ao xadrez, isso foi algo circunstancial ou você escolheu o xadrez como carreira?
O xadrez é hoje sem dúvida minha profissão. Eu acabei largando a faculdade, pois os meus compromissos com o xadrez inviabilizavam que eu fizesse as duas coisas ao mesmo tempo. Como o xadrez era onde eu ganhava dinheiro e o que mais gostava, optei por me dedicar exclusivamente ao xadrez.

4) Dentre as suas muitas conquistas no xadrez, qual considera a mais significativa?
A Categoria Especial do CXSP 1998 onde eu era um grande azarão, e não posso deixar de mencionar o Memorial Amadeu Franco, onde eu não me considerava tão zebra assim, mas eu era o pré-rankeado número 7, entre os 10 participantes.

5) Há muito você merece o título de mestre FIDE que foi alcançado só agora, a que se deve esse retardamento?
Muitos fatores contribuíram nesse retardamento. Vários problemas pessoais entre 1998 e 2002 tiraram bastante o meu foco do xadrez e causaram uma total desmotivação para estudar. Eu diria que desde o meio do ano passado eu voltei a ter a motivação e dedicação necessárias para voltar a progredir no xadrez.

6) O que o motivou a participar do evento em Rosário Oeste? Teve a oportunidade de conhecer a cidade?
O meu principal objetivo era poder ganhar os pontos de rating que eu necessitava. Contudo, a exigência do torneio era muito dura, precisava de 8.5 em 11, para ganhar uns 5 pontos de rating. Se eu fizesse 8 em 11 eu perderia rating, ou seja, não poderia dar nenhuma escorregada. A cidade de Rosário é bastante aprazível e fomos muito bem tratados pelo Prefeito Zeno e toda a organização do torneio. Gostaria muito de voltar a jogar em Rosário.

7) Houve progressos, mas o Brasil ainda é relativamente carente de competições que possibilitem a conquista de títulos de mestre. Como você vê o problema e há algum destaque quanto a isso?
Com certeza há muito o que melhorar nessa área. A grande saída é aparecerem mais organizadores competentes. Um exemplo claro de bom organizador é o Mauro Amaral, árbitro internacional], que através dos Magistrais Comunic, possibilitou várias normas de mestre internacional. Espero que a CBX facilite nas taxas para que possam aparecer cada vez mais torneios desse tipo.

8) Qual a impressão que teve do xadrez no Mato Grosso? Apontaria algum jogador promissor do estado?
Com o apoio do Prefeito Zeno, que é um apaixonado pelo jogo, tenho certeza que daqui alguns anos teremos vários jogadores surgindo por lá. Quanto aos jogadores do MT, gostaria de citar 2, um mais novo, André Nascimento, que tem muito talento para posições agressivas, e outro da geração mais antiga, Jesus Filho, que é bastante criativo e merecia ter feito bem mais pontos no torneio.

9) Além de jogador, você é professor de xadrez, qual das funções lhe satisfaz mais e em qual pretende fazer maior investimento?
Na verdade eu sou um professor que joga. Minha principal atividade é dar aulas nas escolas e treinar alguns alunos particulares. No Brasil até para os GMs é complicado viver só de jogar.

10) Sua geração rendeu bons frutos ao xadrez brasileiro, quem você diria ser o mais bem-sucedido dessa geração?
Com certeza foi a geração que mais deu frutos até hoje. Da minha geração surgiram Vescovi, Leitão, Coelho, Benares, Vinicius Marques, Luciano Maia, Marcus Vinicius Santos, entre outros. Com certeza Leitão e Giovanni foram os que conseguiram chegar mais longe.

11) Como você vê o panorama atual do xadrez brasileiro e do futuro próximo?
Para os GMs a coisa melhorou bastante, mas para os mestres e demais jogadores candidatos a mestre a coisa está bem difícil. Espero que a situação possa melhorar em breve.

12) Você é considerado polêmico e temos a informação de que em um Interclubes Paulista teria usado uma camisa do Corínthians mesmo representando o Palmeiras. É verdade?
Sim, é verdade. Eu estava jogando pelo Palmeiras, porém sou corintiano. Eu era o melhor jogador da equipe e fiz 8.5 pontos de 9 possíveis. Sendo assim, acho que eu merecia usar a camisa que quisesse. (risos)

13) O país já perdeu muitos talentos pela falta de estrutura e apoio, quem você apontaria como o caso mais lamentável?
Para mim, o Benares tinha potencial para ser GM, mas por falta de apoio hoje vive afastado em Rondônia e raramente toma parte em torneios.

14) Comente o desempenho da sua aluna Vanessa Gazola no Pré-Olímpico Feminino recém-encerrado...
Realmente ela jogou um grande torneio e, sem dúvida, merecia estar nessas Olimpíadas. Ela não perdeu nenhuma partida e foi superior durante toda a partida, na última rodada, contra a Regina Ribeiro, e merecia ter vencido, mas, no apuro de tempo, acabou empatando.Com certeza, a Vanessa ainda disputará muitas Olimpíadas e minha impressão é que já em 2008 teremos uma renovação quase que total na equipe.

15) Quem são seus jogadores favoritos?
Dos campeões mundiais gosto de Capablanca pela simplicidade, Botvinnik pela precisão de suas análises, Tal pela magia e Fischer por ter derrubado um império. No Brasil gosto do jogo do Milos, pela técnica precisa e plasticidade do seu jogo e do El Debs, que dos novos valores é o jogador mais completo.

16) Quais as suas próximas metas?
Como jogador quero conseguir fazer um treinamento mais organizado, para melhorar meu jogo e aí descobrir qual o meu limite. E como treinador tenho desejo de me aperfeiçoar cada vez mais e quem sabe um dia ser considerado um dos melhores do Brasil.

17) Gostaria de fazer agradecimentos?
Vou fazer uma lista de agradecimentos a "la Maguila"(risos). Primeiramente, agradecer a minha família. Meu pai que me ensinou a jogar e que me dá bons conselhos; minha mãe que passou uns meses morando comigo e deu um jeito na minha vida, cuidando de todas as coisas e fazendo com que eu pudesse pensar apenas no xadrez; meu irmão Marcel pelos ensinamentos e os momentos maravilhosos que passamos juntos; e também minha irmã Flávia que, apesar das divergências, me ajudou em muitos momentos. Agradeço aos meus professores, o MI Hélder Câmara que é um dos maiores conhecedores de xadrez que já conheci, além de ser um ídolo para mim; e ao Professor e amigo João Braga, que me ajudou muito nessa caminhada. Aos amigos Benares e Luciano pelas várias horas de análise conjunta. Aos meus alunos Leandro, Rodrigo e Vanessa que me enchem de orgulho de ser professor deles. E para encerrar, um agradecimento mais que especial à família Jukemura que é a grande responsável por todas as coisas boas que vêm me acontecendo e sem dúvida é uma nova família que eu ganhei.


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