(FIFA.com) Sábado 19 de junho de 2010
Jogadores como peças de xadrez
            Getty Images
Como verdadeiros enxadristas do futebol, os técnicos das seleções que disputam o Mundial têm diante 
de si um grande tabuleiro onde devem arrumar as suas peças de acordo com uma tática que só eles 
dominam. As peças que eles organizam segundo a sua própria vontade são conhecidas no 
futebol como "jogadores polivalentes."
Alguns técnicos, como Diego Maradona, não fazem nada de extraordinário, preferindo apenas avançar 
ou recuar um jogador, como se fosse um simples peão. Mas essa estratégia pode prejudicar o grupo. 
O argentino Jonás Gutiérrez teve de se adaptar à sua nova função de lateral direito, mas está habituado 
a jogar na posição de meia-direita no Newcastle.
"Eu não jogaria em uma posição se não estivesse à vontade, pois isso poderia prejudicar a equipe", 
explicou o jogador após a vitória contra a Nigéria por 1 a 0. "Eu me sinto bem nessa função e, 
afinal, acho que a equipe se saiu bem na defesa. É importante conversar com os outros defensores e
m campo para evitar surpresas desagradáveis. É um dos segredos."
Lateral avançado ou meia recuado?
Os brasileiros Michel Bastos e Daniel Alves estão na mesma situação. Bastos está recuado na seleção 

de Dunga em relação à posição mais ofensiva que ocupa no Lyon. Já com o jogador do Barcelona ocorre 
o inverso. Apesar de às vezes entrar como meia-direita com a camisa do Brasil, como ocorreu no 
jogo contra a Coreia do Norte, quando substituiu Elano, Daniel Alves atua apenas como lateral 
no clube da Catalunha, embora muitas vezes não hesite em se desdobrar para dar apoio ao ataque.
A vantagem desses jogadores é o fato de serem muito versáteis, com visão de jogo, disposição 
ofensiva e capacidade defensiva. "No Brasil, joguei como lateral direito durante quase cinco anos", 
explicou Bastos em entrevista recente ao FIFA.com. "Mas, pouco depois que cheguei a Lille, o técnico 
começou a me utilizar na meia esquerda, às vezes até na ponta esquerda. Na verdade, é muito comum 
isso acontecer com os laterais brasileiros que jogam na Europa."
Algumas outras peças do futebol têm uma área maior a percorrer no campo e precisam de muito 
rigor tático para não prejudicarem a sua seleção. É por essa razão que o alemão Thomas Müller e o grego 
Giorgios Samaras foram deslocados das pontas, mesmo sem abandonar as suas características ofensivas.
No Bayern de Munique, Müller joga dando apoio ao ataque, enquanto na seleção atua como meia, posição
em que marcou um gol contra a Austrália na primeira partida do Grupo D. "Acho que consigo dar mais 
vigor ao time quando o ritmo começa a diminuir, e posso ajudar a equipe graças ao meu estilo direto", 
analisa o jogador de 20 anos. Já Samaras atua como atacante de referência no Celtic, mas joga aberto 
pela esquerda na seleção grega.
Na defesa e no ataque
Na Inglaterra, o técnico Fabio Capello parece não ter conseguido encontrar a posição ideal para Steven Gerrard. 
Sem ter ainda descoberto um modo de conviver no meio-campo com Frank Lampard, o meia-armador do 
Liverpool joga às vezes como meia ofensivo e outras vezes aberto pela esquerda, em uma posição 
de que ele não necessariamente gosta.


"O técnico me colocou ali com a ordem estrita de jogar com o Wayne Rooney", descreve o novo capitão 
da seleção inglesa. "Ele quer que eu leve perigo ao meio-campo, não apenas na esquerda. Acho que ele 
compreende que não sou um jogador de flanco." Gerrard teve a oportunidade de atuar pelo lado esquerdo 
em parceria com o artilheiro do Manchester United, mas a tentativa não funcionou no empate em 0 a 0 com a Argélia.
Porém, a jogada de mestre veio de Kim Jong Hun, o estrategista da Coreia do Norte, no caso de Kim Myong-Won. 
Embora o jogador tenha ficado quase sempre no banco durante as eliminatórias, ele foi utilizado como atacante 
no final de pelo menos três partidas. O problema é que, na África do Sul 2010, Myong-Won está inscrito 
como terceiro goleiro!
No futebol moderno, os técnicos exigem cada vez mais que os seus peões possam jogar nas posições de rei, 
bispo, torre, cavalo e até rainha. Tudo isso para descobrir uma jogada perfeita que coloque 
o adversário em xeque-mate.