terça-feira, 4 de maio de 2010

O MEU BOICOTE AOS JOGOS ESTUDANTIS DE AÇU

 
  Cleando Cortez (Açu)
 
Por Cleando Cortez

A introdução do xadrez como atividade esportiva na cidade de Açu, por iniciativa do enxadrista Cleando Cortez, teve início no ano de 1996 com a fundação do Clube de Xadrez de Açu, uma organização não governamental. Com recursos do idealizador foram adquiridos jogos de peças e tabuleiros de xadrez, após a aquisição do material foram realizados diversos cursos GRATUITOS nas escolas de Açu (ENSV, IPI, EEJK [recusou], Degrau e CESA). Neste mesmo ano o xadrez, bem como o Jogo de Damas, foi introduzido na II Copa Estudantil, evento esportivo organizado por iniciativa de alguns desportistas da nossa cidade, e após o poder público assumir o evento, passa a se chamar Jogos Estudantis de Açu. Em todas as edições das disputas estudantis, Cleando Cortez participava, de forma voluntária, com arbitragem, organização e cedendo o material do jogo.

No Município de Açu está ocorrendo uma concentração de verbas públicas destinadas ao esporte, visto que, nos últimos anos o futebol está absorvendo boa parte dos recursos. Somos contra essa má distribuição de verbas direcionada a um único esporte e reivindicamos um melhor planejamento esportivo. Futebol é popular, é difundido e tem público, portanto, não necessita de tantos recursos.

É preciso uma política esportiva socialmente justa, democrática, capaz de assegurar a prática de várias modalidades esportivas. Isso só será conquistado com movimento, apoiados pela maioria da população municipal. O boicote objetiva pressionar o governo municipal a uma reavaliação na sua política destinada ao esporte.

O Clube de Xadrez de Açu, além das atividades esportivas estudantis, conseguiu desenvolver o xadrez na cidade, para todas as categorias com competições gratuitas, ou seja, o Clube assumiu o vazio da ausência de políticas públicas, excetuando-se o período de 2005 a 2008. Em números atuais o xadrez em Açu atingiu 679 jogadores, participantes de pelo menos uma competição. A estratégia desenvolvida pelo xadrez açuense sempre se caracterizou pela democratização e popularização, ainda que em um ambiente de extrema indiferença por parte dos agentes do setor público.

Deve o Município concentrar recursos para a prática esportiva profissional ou, ao contrário, priorizar a democratização do acesso às práticas esportivas pela população? Reflitam sobre essa questão. Não podemos nos equivocar, pois retirar o esporte do plano da cultura ou do lazer ou então colocá-lo numa posição de destaque.

Segundo o sociólogo Valter Brachat (2003) "O esporte, na manifestação de alta performance, proporciona aos entes governamentais um retorno que se configura como um produto simbólico que é o prestígio/reconhecimento”.

O grande problema é, ainda hoje no nosso município, a desigualdade de acesso ao esporte e lazer por parcela significativa da população. Ora, o esporte de alto rendimento (profissional), por sua característica de seletividade, é uma prática amplamente EXCLUDENTE e reservada a parcela muito reduzida da população. Neste contexto, o direito social se converte em direito do consumidor.

O Grande Mestre Yasser Seirawan no seu livro Xadrez Vitorioso faz o seguinte questionamento: "porque as pessoas gostam de jogar xadrez?", segue dizendo "a beleza singular do xadrez tem atraído as maiores mentes da história da humana. E por quê? O que o torna fascinante?" e arrebata com brilhantismo nas suas conclusões quando diz: "A essência do xadrez é uma batalha de mentes. O xadrez reflete a vida. Só força de vontade não basta, é preciso usar o cérebro, é preciso pensar e é preciso treinar para encontrar diversas possibilidades. Entre os jogos, o xadrez é o instrumento perfeito para o exercício da mente. Se não fosse necessário, teria deixado de existir, não teria sobrevivido por milênios, só sobrevive ao teste do tempo tudo aquilo que é necessário".

Cleando Cortez

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...